4º Tema para a Reunião dos Grupos de Reflexão:
Os caminhos do amor
O amor trilha caminhos inacreditáveis, enfrenta obstáculos, supera problemas aparentemente sem solução e quebra barreiras que superam o mal nos “transportando” para o bem quando dele nos afastamos. Trata-se do amor com todos os seus elementos, o amor em uma visão holística (integral) de existência. Supõe até mesmo a paixão. Não a paixão como se vê em muitas mentes como algo que pode sufocar ou absorver em compulsões, mas a paixão pela alma que leva a pessoa a fazer suas escolhas direcionando afetos na grandeza da liberdade do sentir. Algo que corresponde às autênticas identificações entre pessoas que se conhecem sem prejudicar a relação no nível que ela deve permanecer. Supõe também maturidade.
Amor por si só basta, pois ele é a maior necessidade e a suficiência dos seres. Ele é dinâmico, compreensivo e paciente. É um termo que se completa na própria expressão. Deus é amor e é o princípio e o fim de tudo o que existe. Sem o amor (caridade), nós não seriamos nada (cf. 1Cor 13,13). Fomos criados do amor e para o amor.
Hoje em dia a frase “Eu te amo!” está quase em extinção, pois o real sentido dela está distorcido tanto pela cultura quanto pela mídia. Amar, do ponto de vista atual, significa desejar o outro, ter o outro para si em função de um apreço meramente psicológico e físico. Amar é mais que desejo quando este gosto implica somente satisfação pessoal. Não é necessário o desejo assim visto para amar. O termo assume dimensões físicas onde o ser humano procura viver de maneira individual em busca do que lhe agrada e do que ama ou gosta subjetivamente.
O sentido da palavra amor não está voltado para o ser em seu individualismo. Não vem de cada um amar. Amar vem de Deus, pois ele é amor (cf. 1Jo 4,7-8). Ele ama e somente permanecendo em comunhão com Ele seremos capazes de amar. Essa comunhão supõe os relacionamentos e sua devida orientação. Amamos porque Deus está em nós (cf. 1Jo 4,12).
Claro que não amamos alguém de primeira ou de pronto. Podemos perceber uma simpatia num instante inicial, mas não olhamos para alguém que acabamos de conhecer e dizemos que a amamos, absolutamente. Seguimos uma trajetória sentimental e como o amor está em uma dimensão espiritual mais elevada podemos dizer que desenvolvemos um percurso psicológico para sermos capazes de amar. Não devemos temer suas implicações que são coordenadas nas formas relacionais. Já dito: fomos criados do amor para amarmos. Isto consiste estar em Cristo como ele está no Pai (cf. Jo 17,24).
Considerações
1 - Se Deus é amor e amamos por causa dele precisamos estar com ele para amar. Conhecer e deixar-se conhecer por Deus através da oração e da afeição de uns pelos outros supondo o diálogo. O amor não provoca a divisão entre as dimensões espirituais e terrenas, muito pelo contrário, une, integra. Promove a comunhão e a participação.
2 - O real sentido das palavras “diabo” e “símbolo” na ordem são aquilo que divide e aquilo que une. Assim é possível amar mesmo diante de incômodos que devem ser superados por aqueles que se permitem “construir-se” no amor. Numa obra, às vezes, cai o reboco de uma parede, mas o pedreiro vai lá e embossa de novo. O verdadeiro amor cura e transforma. Dá assentimentos às possibilidades de relacionamento no Espírito Santo (cf. 1Jo 4,13). Mesmo os desejos podem ser reorientados quando se insurgem de maneira desproporcional.
3 - Precisamos amar a nós mesmos para amar os outros como Jesus ensinou. Se eu reconheço que o amor está dentro de mim sou capaz de amar a mim mesmo buscando amar o outro e aceitando-o como ele é. Dessa forma sou capaz também de superar problemas referentes à nossa própria existência e convivência.
4 - Amar o outro significa que amamos a Deus e a nós mesmos. Quando amamos o outro desenvolvemos externamente um nível de intimidade. Ser íntimo é conhecer profundamente e deixar-se conhecer pela pessoa ou grupo correspondente. Aqui está a ciência do amor no exercício prático das relações que não surgem por acaso.
5 - Amar em comunidade significa que somos capazes de amar uma pessoa porque aquele que amamos a ama. Este é o nível mais alto do amor ao qual o Cristo amou a humanidade. Capaz de dar a vida por amor a todos conhecendo ou não. Ele foi capaz de estimar até aqueles que não o entendiam muito bem, inclusive os discípulos.
Entretanto podemos pensar: “Jesus é homem, mas é Deus”. Não devemos esquecer que justamente por isso Jesus é a nossa referência. Sem ele não poderíamos amar diante de divergências e discórdias. É o amor que corrige as diferenças. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus e Deus nos ama sem impor condições (cf. 1Jo 4,11-16). Devemos amar ao nível que Cristo nos ensinou (cf. Jo 17, 26). Amemos uns aos outros (cf. Jo 13, 34). Isso não é algo que esteja acima de nós nem que seja árduo. É preciso conscientização e deixar-se “nascer de novo”, do alto (cf. Jo 3,7). Amar é o único mandamento que Deus “exige” para desenvolvermos nossas relações pessoais dentro do grupo ou comunidade, o laboratório do amor (cf. 1Jo 5,3).
A capacidade de amar o outro e a nós mesmos manifesta-se quando estamos em Deus. Reafirmamos isso! Ele quis assim: que o mundo fosse feito de amor, pois o amor é o bem maior que origina todos os outros bens. Estamos assim em uma “luta” constante contra as possíveis transgressões, ou seja, contra aquilo que nos impede de amar quando fugimos desse combate.
O amor é a semente de um mundo melhor. Pensemos: se amamos não desejamos mal a outra pessoa, não nos afastamos sem que o outro seja capaz de justificar-se ou rever seu posicionamento. Reconhecemos que somos seres semelhantes na capacidade de errar e superar o erro. Lembremos que corrigir o outro é o mais excelente ato de misericórdia ensinado por Jesus (cf. Mt 18,15-18). Quando amamos somos capazes de perdoar (cf. Mt 18,21). Isso quer dizer “doar-se de novo”, de falar para o outro o que nos incomoda com sinceridade e de ajudar no que perturba o próximo ou a nós mesmos. Também dessa forma evitamos que uma pessoa continue no erro ou no desvio porque não queremos o seu fracasso ou sofrimento. Quem ama não desiste do ser em atenção e cuidado.
Quando amamos de verdade temos condições de manter um espírito saudável. Temos uma oração completa em Deus que está em nós. Logo, nada falta na vida daquele que segue os caminhos do amor. O amor realiza. Deus é amor e nessa perspectiva basta!
Priscyla Giobini e Pe. Alexandre
Texto original retirado do blog de P. Alexandre Cortizo do seguinte site: